
PM do Pará usa búfalos para policiamento.
A ilha fluvial do Marajó (PA) tem cerca de 430 mil cabeças de búfalos, segundo o IBGE. A chegada desses animais ao Brasil faz parte do enredo da escola Paraíso de Tuiuti.
A Ilha do Marajó, no Nordeste do Pará, abriga o maior rebanho de búfalos do Brasil. O animal, símbolo da região, foi escolhido como elemento central do samba-enredo da escola carioca Paraíso do Tuiuti. A escolha não foi à toa. No Marajó, o búfalo está presente na culinária, no policiamento, na produção do couro, nas apresentações culturais e no ambiente familiar dos moradores.
Como forma de valorizar esse aspecto da cultura paraense, o artista marajoara Damasceno Gregório dos Santos, o mestre Damasceno, criou o Búfalo-Bumbá, uma adaptação da tradicional manifestação folclórica no Norte e Nordeste conhecida por Boi-Bumbá. O artista está no enredo da Tuiuti e foi convidado para desfilar na escola no dia 20 de fevereiro, no Rio de Janeiro
Como os búfalos chegaram ao Marajó
Segundo o agrônomo e produtor de queijo Carlos Augusto Gouvêa, uma das explicações para a primeira introdução de búfalos no Brasil, nos anos 1890, está baseada na literatura e nas informações de vaqueiros, fazendeiros, nativos e pesquisadores.
Naquele período, um fazendeiro de Soure, chamado Vicente Chermont de Miranda, em viagem pela Itália viu o potencial do búfalo. Ao retornar para a Ilha do Marajó, comprou e trouxe consigo alguns desses animais.
“Tem informações que foram três fêmeas e um macho e tem outras informações que foi um grupo maior. Eu acredito que foram poucos búfalos, porque era um animal desconhecido e ele não ia investir grandes valores para trazer um rebanho maior”, afirma.
De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Pará tinha cerca de 620 mil cabeças (cerca de 40% do total nacional) em 2021, das quais mais de 430 mil estavam apenas na ilha do Marajó.
Gouvêa questiona como o rebanho no Marajó chegou ao patamar de mais 600 mil cabeças apenas com a importação feita por Vicente Chermont de Miranda. Para ele, já existiam búfalos antes de 1890 e a entrada dos animais ocorreu pela costa da ilha.
No entendimento dele, alguns países europeus traziam os presos para a antiga região das ‘Guianas’. E para alimentar os detentos era usada a proteína mais barata no mercado: a carne de búfalo.
“Por duas razões os búfalos foram inseridos na região: para alimentar com carne e leite os presos e para que os búfalos servissem como animal de tração para tirar as toras de madeira das Guianas e levar até as embarcações. Então, as espécies que foram trazidas foram da raça Rosilho e Carabal”, explica.
Gouvêa diz que em uma dessas viagens entre os continentes europeu e sul-americano os presos fizeram um motim para tentar fugir, porém, a embarcação naufragou. Os búfalos, por serem fortes e exímios nadadores, sobreviveram.
“A corrente marítima trouxe os búfalos para a costa mais próxima, a região do Marajó. Aqui eles encontraram todas as condições favoráveis para sua sobrevivência. Essa história justificaria o atual rebanho”, afirma.
Produtor de queijo na ‘Fazenda Mironga’, Carlos Gouvêa tem 74 anos e trabalha com leite de búfala há gerações. Ele disse que no município de Soure há três búfalos para cada pessoa e que a economia, a indústria da carne e o turismo giram em função do búfalo.
“É difícil dar um predicado para o búfalo, mas ele é um conjunto de qualidade. Se eu e minha família estudamos foi por causa do búfalo. Ele é determinante para a fixação do homem na terra, na criação de renda e na qualidade de vida”, enfatizou.
Mimado até com sorvete
Um proprietário de uma sorveteria na Ilha do Marajó resolveu adotar um búfalo de cerca de 800 quilos como “animal de estimação” ou “filho”, como Joniel Melo prefere dizer. O morador de Soure cria há nove anos um búfalo da raça mediterrâneo que se chama “Alemão”.
Joniel tem labirintite e viu no animal uma forma de terapia para lidar com a doença. Nessa relação, o búfalo se tornou um mascote da sorveteria comandada por Joniel. E, no meio de tanta gostosura, nem o Alemão resistiu à tentação e, às vezes, tem o direito de saborear uma delícia gelada.
Couro do búfalo: fonte de matéria-prima
Há quatro gerações um morador do município de Soure, no Marajó, trabalha com um elemento único do búfalo: o couro. Antenor Júnior é dono de uma loja de curtume na região onde vários produtos são feitos do couro cru do animal.
Entre os itens mais vendidos do local estão cintos, sandálias e bolsas. Mas a loja tem também algumas particularidades, como a confecção de bolsas a partir do saco escrotal do animal e uma cueca produzida com couro de búfalo, o chamado de “Cuecão de Couro”.
‘Veículo’ na ronda da PM
O 8º Batalhão da Polícia Militar do Pará, em Soure, é o único do país a adotar o uso de búfalos como modalidade de policiamento. Doados por fazendeiros, os animais chegam ao batalhão ainda pequenos para se adaptarem ao local e aos agentes de segurança.
Pratos típicos da culinária marajoara
O potencial turístico e culinário do búfalo do Marajó vem transformando a vida de muitas pessoas da Ilha. Uma delas é a do chef de cozinha Claudomiro Maués. Com 53 anos, ele diz que a gastronomia é algo transformador na sua vida.
Segundo o chef, a Ilha do Marajó tem uma geografia completamente diferente que deixa a proteína animal com um sabor incomparável. Duas de suas produções se beneficiam desse “tempero da região”: o Filé Marajoara e o Frito Vaqueiro, cujas receitas e modos de preparo podem ser conferidas aqui.