Putin defende acordo nuclear e nega participação da Rússia em ciberataques após reunião com Biden em Genebra

Esse foi o primeiro encontro do presidente russo com Biden como presidente dos EUA. Após a reunião, os dois mandatários falaram com a imprensa separadamente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira (16) que suas conversas com o americano Joe Biden “foram construtivas”. Eles se encontraram em Genebra, na Suíça, para a 1º reunião entre os atuais mandatários dos dois países.

Os dois presidentes concederam entrevistas coletivas separadamente e o russo foi o primeiro a falar.

Putin relatou que foram discutidos, entre outros temas, estabilidade nuclearUcrânia e segurança cibernética. Ele sustentou que, durante toda a reunião, não houve nenhum momento de hostilidade e que ambos mostraram o desejo de se entender.

O mandatário russo também falou sobre o destino de seu principal opositor Alexei Navalny, preso ao retornar ao país: “Ele sabia que estava infringindo as leis russas”.

“Ele sabia que seria preso quando retornasse, mas voltou mesmo assim”, disse Putin.

O presidente dos EUA falou pouco depois à imprensa em outra área de Genebra. Em um pronunciamento inicial, Biden defendeu que a relação entre EUA e Rússia “precisa ser estável e previsível”.

Ele também falou da preocupação do governo americano com o tratamento dado ao opositor Navalny: “Deixei claro para o presidente Putin que continuarei a levantar questões de direitos humanos fundamentais, porque é isso que somos.”

“Minha agenda não é contra a Rússia, é pelo povo americano”, afirmou Biden.

O presidente americano também afirmou que não é de interesse dos dois países que uma “nova Guerra Fria” seja travada mas disse que os EUA irão reagir a ameaças, como por exemplo, ciberataques.

“A última coisa que ele quer, eu acho, é uma nova Guerra Fria”, disse Biden.

Estabilidade nuclear

Putin defendeu que as duas potências países são responsáveis ​​por garantir a estabilidade estratégica nuclear mundial e disse que seu governo começará uma série de discussões com Washington para a proposta de possíveis melhorias no tratado New START sobre armas nucleares.

O New START (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas) foi assinado em 2010, limita o número de ogivas nucleares estratégicas, mísseis e bombardeiros que as duas potências podem usar foi recentemente ampliado.

No ano passado, o governo de Donald Trump rejeitou a proposta russa de prorrogar o tratado por um ano. Após assumir, o novo presidente dos EUA, Joe Biden, declarou a intenção de prorrogá-lo — e a Rússia afirmou que o gesto era bem-vindo.

Ciberataques

O presidente russo disse também que chegou a um acordo com Biden para que os dois países iniciem consultas sobre segurança cibernética.

Ele disse também que muitos dos ataques cibernéticos direcionados à Rússia vinham dos EUA e Canadá.

Retorno de diplomatas

Embaixadores dos dois países retornarão aos seus postos diplomáticos para seguir com os esforços de relações entre a Rússia e os EUA.

Putin disse que o retorno é certo, mas que quando e como isso vai acontecer é uma “questão puramente técnica”.

Em abril, a Rússia expulsou diplomatas americanos sob acusação de espionagem logo após os EUA anunciarem uma série de sanções ao país.

Encontro esperado

Putin afirmou, antes do início na reunião, ao entrar na Villa La Grange – histórica construção do século 18 que é sede do encontro –, que esperava uma conversa produtiva.

“Senhor presidente, gostaria de agradecer sua iniciativa de nos reunirmos hoje”, disse Putin.

“É sempre melhor nos encontrarmos cara a cara”, afirmou Biden.

Biden disse então que os dois líderes tentarão determinar áreas de cooperação entre os dois países e defender os interesses mútuos.

Biden é o 5º presidente americano a se encontrar com Putin desde que este chegou ao poder, no fim de 1999.

Genebra recebe os líderes no momento em que os dois países enfrentam um dos piores momentos de sua relação bilateral – foi lá também que, em 1985, sediou o histórico primeiro encontro entre Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov, então no auge da Guerra Fria.

Além de Biden e Putin, estarão presentes os chefes de diplomacia dos dois países, Antony Blinken e Serguei Lavrov.

Sem grandes expectativas

Embora reconheçam a importância da aproximação e da cúpula como um primeiro passo, nenhum dos lados nutre grandes expectativas de resultados efetivos para o encontro de Genebra.

“Não estou certo de que se chegará a qualquer acordo. Vejo esta reunião com otimismo prático”, disse o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, que falou a jornalistas na terça-feira.

Opinião parecida foi emitida pela Casa Branca, que afirmou não esperar grandes anúncios, mas que as relações a longo prazo entre os países sejam mais “estáveis e previsíveis” após Genebra.