
Idafro alega que durante operação houve invasão a templos de matrizes africanas e agressões. Caçada ao suspeito de matar família em Ceilândia já dura 15 dias.
O Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (Idafro) pediu na Justiça de Goiás que a força-tarefa que tenta prender Lázaro Barbosa não entre e faça buscas nos templos religiosos sem ordem judicial. O fugitivo é suspeito de matar uma família em Ceilândia. Na ação, a entidade diz que há registros de agressões, ameaças e destruição de símbolos sagrados por parte de policiais.
A Secretaria de Segurança Pública de Goiás informou que só irá se pronunciar após ser notificada oficialmente. Até as 17h10 desta quarta-feira (23), o pedido ainda não havia sido julgado pelo Tribunal de Justiça de Goiás.
Líderes de religiões de matrizes africanas em Cocalzinho de Goiás e Águas Lindas de Goiás relatam que, desde o dia 15 de junho, policiais agiram com truculência durante as buscas por Lázaro. Segundo o pedido feito à Justiça, em uma dessas situações, um templo religioso foi invadido às 23h do dia 16, “sendo que o caseiro foi agredido fisicamente pelos policiais sem que opusesse qualquer fora de resistência à incursão ilegal e abusiva”.
Ainda segundo o Idafro, “pelo menos 10 templos afro-religiosos foram vítimas de incursões policiais abusivas e violentas, sendo certo que, temendo as costumeiras represálias, somente uma parte das lideranças religiosas manifestou-se publicamente”.
O advogado Hédio Silva Júnior explica que as buscas foram feitas sem mandado judicial, constrangendo os integrantes das religiões.
“O que buscamos é preservar a integridade dos templos afro-religiosos e das lideranças da região. Somos amplamente favorável à operação para a prisão do Lázaro, mas o crime dele não tem ligação com as religiões de matrizes africanas”, disse.
15 dias de busca
A caçada a Lázaro Barbosa já dura 15 dias. Uma força-tarefa com 270 homens e mulheres de várias áreas de segurança trabalham 24 horas por dia para tentar localizar e prender o fugitivo. Desde que começaram as buscas, o investigado já invadiu diversas propriedades, fez pessoas reféns e trocou tiros com policiais e um caseiro.
Além de policiais e bombeiros, a caçada conta ainda com rádios comunicadores que têm um alcance de até 30km, drones equipados com sensores de calor que estão sendo usados em áreas onde o sobrevoo de helicóptero é mais arriscado, e cães farejadores, inclusive uma cadela que atuou nas buscas por vítimas na tragédia de Brumadinho.
A força-tarefa também segue com várias barreiras em estradas de terra e rodovias nas regiões de Cocalzinho e Águas Lindas de Goiás.
Cronologia da fuga
- 9 de junho: Lázaro invadiu uma chácara no Incra 9, em Ceilândia (DF), onde matou a tiros e a facadas um casal e dois filhos. Roubou a chácara após o assassinato da família. Ele teria rendido o caseiro, o dono da propriedade e a filha dele;
- 11 de junho: Lázaro fugiu para Cocalzinho de Goiás logo em seguida.
- 12 de junho: Ele atirou em quatro pessoas, invadiu fazendas e colocou fogo em uma casa ao fugir da polícia. Os feridos foram levados a hospitais da região, sendo que dois estavam em estado grave até sábado (19).
- 13 de junho: Furtou um carro e o abandonou na BR-070 após avistar uma barreira policial, dando sequência à fuga para uma mata.
- 14 de junho: Caseiro de Cocalzinho de Goiás disse à polícia que atirou em Lázaro Barbosa após ele falar que ia entrar na casa. Chacareiro relatou que ele fugiu depois de ser atingido. Lázaro foi filmado no curral de uma fazenda entre os distritos de Edilândia e Girassol. A polícia acredita que ele passou a noite no local. O caseiro diz que o homem pediu comida e em seguida fugiu para a mata;
- 15 de junho: Dois policiais militares de Goiás foram baleados durante buscas do suspeito. Delegado diz que Lázaro fez casal e adolescente reféns em Edilândia. Uma parente da família relatou os momentos de pânico;
- 16 de junho: Lázaro Barbosa foi visto por um morador em uma área rural.
- 17 de junho: a polícia retomou as buscas em matas da região e mudou a base de operação pela segunda vez. Houve nova troca de tiros e secretário de segurança pública acredita que ele esteja ferido;
- 18 de junho: durante buscas o secretário de segurança pública disse que acredita ter visto Lázaro. Segundo PRF, ele foi visto em um chiqueiro durante a tarde, mas fugiu novamente para vegetação;
- 19 de junho: a houve uma grande movimentação de policiais na região de Águas Lindas, depois que um morador afirmou ter visto Lázaro em uma gruta da região. No mesmo dia, a cadela que atuou nas buscas pelas vítimas da tragédia de Brumadinho chegou a Cocalzinho de Goiás;
- 20 de junho: as buscas por ele foram intensificadas por policiais civis, militares e federais. Foram usadas três aeronaves e cinco cães farejadores na caçada.
- 21 de junho: Pela manhã uma moradora denunciou que viu um homem, parecido com o fugitivo, passar por uma propriedade rural. Policiais e bombeiros com cães farejadores acompanharam a mulher para fazer uma verificação na área. Militares de vários batalhões vasculharam casas rurais em busca de pistas e rastros que Lázaro possa ter deixado;
- 22 de junho: policiais retomam buscas por Lázaro e recebem rádios comunicados do Exército Brasileiro com alcance de 30km. Pela manhã, equipes periciaram um carro que foi encontrado queimado e, à tarde, um lençol e um serrote, que foram encontrados em um local onde o criminoso pode ter se abrigado, em Águas Lindas de Goiás. À noite, um novo cerco foi montado após troca de tiros entre caseiro e suposto invasor.