
Apesar do aumento do índice, desigualdade persiste, mostra a TIC Domicílios
O acesso à internet nas casas brasileiras cresceu em 2020 e o índice chegou a 83%, puxado pelo aumento entre os mais pobres, mostra a pesquisa TIC Domicílios, divulgada nesta quarta-feira (18) pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação).
A conexão residencial cresce desde 2014 e atinge 100% das classes A e B. Nas classes C e D/E, a proporção é de 91% e 64%, respectivamente, com altas de 10 e 14 pontos percentuais na comparação com 2019.
Apesar da evolução e da aceleração do uso impulsionada pela pandemia, que também ajudou a elevar a contratação de banda larga fixa (responde por 69% das conexões), alguns indicativos mostram que a desigualdade digital permanece no Brasil.
O preço dos planos de internet, por exemplo, é citado como a principal barreira de acesso à rede. Também é alto o número de usuários mais pobres que se conectam somente pelo celular.
A internet móvel como uso exclusivo é muitas vezes garantida apenas com planos limitados de internet, em especial entre os mais vulneráveis, que contratam programas pré-pagos. Esse tipo de conexão não é o mais indicado por especialistas para a realização plena de atividades escolares e profissionais.
A pesquisa mostra que cresceu o número de casas com computador, mas o índice é de apenas 13% na classe D/E e de 50% na classe C. No meio rural, na retaguarda do acesso, 17% das casas têm computador.
Já os usuários de internet, aqueles que acessaram as redes há menos de três meses da entrevista, não necessariamente em casa, chegam a 152 milhões, com 83% no meio urbano e 70%, no rural. O acesso é maior entre as pessoas com maior nível de escolaridade, mais jovens e mais ricas.
Mais da metade (58%) dos usuários brasileiros se conecta somente pelo celular, sendo 90% da classe D/E, de acordo com a pesquisa. Esse índice cai para 58% na classe C e para 25% e 11% nas classes B e A, respectivamente.
Com as restrições sociais impostas pela crise de Covid, a classe C foi quem mais realizou curso a distância (18%, aumento de nove pontos percentuais) e estudo por conta própria (45%, alta de oito pontos percentuais). No geral, 44% estudou de maneira independente.
O uso da internet para atividades escolares entre pessoas de 10 a 15 anos foi de 91%.
No geral da população, apenas 45% dos usuários disseram ter realizado pesquisa ou atividades escolares pela internet —na classe A, a proporção foi de 72%. O acesso para curso a distância cresceu de 10% em 2018 para 21% no ano passado.
Os estados brasileiros deverão receber R$ 3,5 bilhões para investir em programas de conectividade. Em março, o presidente Jair Bolsonaro vetou o projeto de lei que previa a internet gratuita a alunos e professores da rede pública. O Congresso derrubou o veto, mas ainda há um impasse para financiar a medida.
A amostra da TIC Domicílios é de 5.590 casas e 4.129 pessoas, entrevistadas de outubro de 2020 a maio de 2021. Devido à pandemia, a metodologia foi adaptada e a coleta presencial foi substituída em grande parte pela telefônica.