O segundo semestre de 2025 marca um período próprio para a voga produzida em terras brasileiras, já que o São Paulo Fashion Week (SPFW), principal e mais importante semana fashion da América Latina, comemora três décadas com a edição N60.

Entre os dias 13 e 20 de outubro, 38 estilistas e designers apresentam suas identidades criativas nas passarelas montadas em diferentes pontos da capital paulista.

“Quando a gente fala de 30 anos inevitavelmente você começa a lembrar do início da história, das coisas que aconteceram, dos movimentos que foram plantados ali. O São Paulo Fashion Week é uma semana de voga muito próprio e específica, dissemelhante em relação a outras semanas ao volta do mundo”, diz Paulo Borges, diretor do SPFW em entrevista exclusiva à CNN.

 

Segundo ele, desde o início, a temporada foi pensada em uma construção de cultura e uma transformação de comportamento, entregando ao país uma grande ebulição para o mercado criativo. “Neste ano, decidimos trazer uma celebração de tudo que já fizemos, mas olhando para frente. Quais os novos caminhos do mundo para a voga, pensando nos pilares que nós sempre acreditamos: variação, sustentabilidade, inclusão”, acrescenta.

“É importante pensar lá detrás, há 30 anos, questionavam a existência da voga no Brasil. Hoje, a pergunta é: qual é a voga do Brasil que a gente está enxergando? Porquê ela tem que se aprofundar? Ela precisa se aprofundar em nós, nessa capacidade de cada criativo que está num determinado ponto do país, que tem um mundo ideal na sua cabeça, um mundo inspiracional. E isso mostra um pouco da retrato do Brasil. Acho que esse é o caminho que a gente vai seguir e buscar para evoluir”, reflete.

Paulo Borges é fundados e diretor-criativo do SPFW • Adriano Damas
Paulo Borges é fundados e diretor-criativo do SPFW • Adriano Damas

A gente sempre batalhou para estar 15 segundos avante, diz Paulo Borges

Indo além de impactos que permeiam a sustentabilidade, variação de corpos ou a justiça racial nas passarelas, Paulo diz que a equipe por trás da semana de voga sempre trabalhou na zona do risco e do risco, finalmente, é exatamente neste lugar onde encontram a capacidade de gerar.

“Se você está seguro, se você já está com as coisas resolvidas ao seu volta, não tem originalidade. A originalidade nasce da falta, da carência. Esse é o nosso repto, colocar as pessoas e nós mesmos em um lugar de risco, onde a gente ainda não experimentou”, comenta.

“Quando falamos de corpos, foi uma luta grande. Cuidamos de meninas que tinham crise de fastio, impondo um limite mínimo de idade para não ter ninguém ali, naquela passarela, com 13, 14 anos. Isso fez uma transformação no mercado”, adiciona.

O país também protagonizou outros momentos que marcariam para sempre a história do evento, porquê em 2019, quando o protótipo brasiliense Sam Porto despontou na mídia. O fragor não foi à toa, finalmente, ele era o primeiro varão trans a desfilar no São Paulo Fashion Week.

“Dai começamos com corpos gordos, plus-size, tudo de forma procedente, porque tem coisas que você não pode impor. Tem que fazer as pessoas querem. A voga é isso, ela gera esse libido. Acho que esse é a força do SPFW, ela contamina de positivamente”, pontua Borges.

O que esperar do horizonte do São Paulo Fashion Week?

Embora o questionamento não tenha uma resposta definida, para Paulo o mais importante é nunca perder o pensamento e os pilares de que a semana de voga vernáculo nasceu para ser criativa. “Você não vai encontrar isso na exuberância. Por isso que quase todo manifesto criativo nasce nas periferias, porque é o lugar que mais tem falta e, ao mesmo tempo, é extremamente rico e revolucionário”.

“É nesse sentido que a gente tem que olhar. Não há uma edição igual a outra. E essa também não será. Sempre trouxemos uma discussão, um tema, e isso não tem zero a ver com tendência. Tem relação com o mundo. A voga não olha mais para um laboratório interno, ela olha para a rua. Hoje você não vende mais uma peça porque é a peça, você vende porque ela está carregando uma narrativa que te alinha”, conclui.