Há objetos que ultrapassam a função de sua origem e se tornam símbolos culturais. Algumas peças no universo mobiliário carregam essa núcleo, um exemplo é a Peacock Chair (cadeira pavão, em tradução livre), a cadeira filipina de espaldar em leque que se firmou porquê um ícone de identidade e resistência cultural.

Feita de rattan, uma fibrilha originário numeroso nas florestas do sudeste asiático, a Peacock Chair nasceu no região de Parian, em Manila. Ali, entre o término do século 19 e o início do 20, artesãos anônimos começaram a tecer o que seria mais do que um assento: uma narrativa de autonomia e formosura em meio à colonização espanhola e à dominação americana.

A cadeira que nasceu entre colônias

De congraçamento com o designer, professor, pesquisador e diretor do Museu da Cadeira Brasileira (MuC), João Caixeta, a Peacock Chair surgiu no momento em que as Filipinas vivia uma transição histórica: o término de mais de três séculos de colonização espanhola e o início da presença norte-americana, a partir de 1898. Nesse período, o país experimentava uma disputa simbólica intensa entre o que era imposto e o que era sítio.

O epicentro desse processo foi o região de Parian, em Manila, espargido pela produção artesanal de móveis e cestarias.

“Enquanto os espanhóis introduziram o mobiliário de madeira pesada e estilos europeus, o período americano trouxe novas influências comerciais e uma valorização gradual dos materiais e técnicas locais. A Peacock Chair se destacou porquê uma peça que, embora se assemelhasse a uma cadeira europeia em sua função, era distintamente filipina em seu material, rattan, e em sua elaborada técnica artesanal”, explica.

Geração coletiva e saber tradicional

Segundo Caixeta, ao contrário das cadeiras europeias, criadas por marceneiros reconhecidos, a Peacock Chair não tem assinatura. Ela nasceu do coletivo, de um ofício pretérito de geração em geração.

“Não existe o registro de um só pai. A Peacock Chair é uma construção coletiva, resultado de gerações de saber manual”, afirma o pesquisador. “Uma vez que muitos objetos originários de povos tradicionais, ela não nasce de um gesto único, mas da prática compartilhada.”

Essa falta de autoria individual reflete um modo de gerar que é profundamente comunitário. Os artesãos de Parian, muitos deles descendentes de chineses, teciam o rattan não somente porquê material de trabalho, mas porquê sentença de identidade. Cada cadeira era dissemelhante, um estabilidade entre técnica e percepção.

Rattan e identidade

O uso do rattan é o que dá à Peacock Chair sua personalidade. A fibrilha, extraída de trepadeiras tropicais, é maleável, indestrutível e renovável. Seu manejo exige tempo e habilidade, primeiro a colheita, depois o incisão, o amolecimento com calor e, por término, o trançado.

“A identidade da cadeira está intrinsecamente ligada à habilidade manual dos tecelões filipinos em gerar padrões intrincados e a forma distintiva do encosto em leque, que exige um sobranceiro proporção de precisão e paciência”, diz Caixeta.

Enquanto a marcenaria europeia celebrava a rigidez e a geometria, o design filipino se construía na flexibilidade e na organicidade. O resultado era uma peça que representava, ao mesmo tempo, natureza e cultura, força e leveza, tradição e modernidade.

Simbologia do leque

O espaldar em forma de leque é o pormenor que eternizou a Peacock Chair. De subitâneo, remete à rabo ensejo de um pavão, símbolo de formosura e realeza em diversas culturas. Mas, segundo Caixeta, a leitura vai além da ornamentação.

“O espaldar europeu é fálico, vertical, símbolo de domínio masculina. A Peacock Chair rompe isso”, explica o professor. “O trajo é que a forma arredondada no espaldar da Peacock Chair filipina trás uma possibilidade oposta de leitura, o universo feminino, arredondado, expresso em sua forma de amplexo materno.”

“E, se observarmos muito, em oposição ao significado de falo, arquétipo do espaldar da cadeira, teremos uma outra leitura, uma forma uterina que nos inspira proteção e aconchego. Zero melhor para o objeto cadeira e sua proposta de sua funcionalidade”, reforça Caixeta.

Resistência e pós-colonialismo

Em meio ao domínio colonial, a Peacock Chair foi uma certeza da originalidade filipina. Enquanto o oração solene tentava impor valores europeus, o artesanato sítio encontrava meios de resistência estética.

“A cadeira encarna a capacidade dos filipinos de manter e comemorar sua identidade em face de séculos de dominação”, explica Caixeta. “Ela representa a persistência das habilidades tradicionais e a utilização de materiais locais, um gesto de autonomia diante do estrangeiro.”

Décadas depois, essa força simbólica ecoou fora das Filipinas. Nos anos 1960 e 1970, a cadeira se tornou um ícone global, aparecendo em retratos de personalidades e movimentos contraculturais. Um dos mais célebres foi o retrato de Huey P. Newton, líder dos Panteras Negras, empunhando uma lança e um rifle enquanto posava sentado numa Peacock Chair. De assento colonial, ela se tornou trono revolucionário.

“No contexto pós-colonial, a cadeira assume um significado ainda mais profundo. Depois de séculos de colonização que tentaram suprimir a cultura ancião em obséquio de modelos estrangeiros, a Peacok Chair emergiu porquê um ícone global de design que é inequivocamente filipino”, afirma Caixeta.