
Por muitos anos, existia uma narrativa na indústria cripto de que o Bitcoin (BTC) era um ativo imune aos fatores macroeconômicos, como as mudanças de política monetária nos Estados Unidos. Mas o histórico mostra que a maior cripto do mercado também se move ao sabor dos juros gringos como qualquer outro ativo de risco – e isso pode ser usado pelos investidores para tomar decisões estratégicas, ainda mais diante das expectativas de cortes a partir de setembro.
A primeira transação do Bitcoin foi realizada em janeiro de 2009, quando o mundo ainda lidava com os efeitos da crise do subprime. Daquele ano até meados de 2016, os juros nos EUA ficaram na faixa do 0%. Esse ambiente de liquidez abundante e dinheiro barato foi um dos motivos para a ascensão da criptomoeda, segundo especialistas, que saiu de menos de um centavo de dólar para perto de US$ 1.000 em apenas oito anos.
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Entre 2016 e 2019, mesmo com a alta gradual dos juros na terra do Tio Sam – que chegaram aos 2,5% – o BTC ainda sustentou valorização, embora com volatilidade. Em 2020, com a pandemia de coronavírus, o Federal Reserve (o BC do país) voltou a cortar juros para a faixa dos 0%. Nesse cenário, o Bitcoin disparou de cerca de US$ 5.000 para mais de US$ 60.000 em 2021.
A partir de março de 2022, o Fed iniciou um ciclo agressivo de alta, levando os juros a 5,5% em julho de 2023. O aperto monetário esfriou o apetite por risco e pressionou diretamente o preço do Bitcoin, que despencou de quase US$ 60.000 para a faixa de US$ 20.000. O período ainda coincidiu com o colapso da FTX – então uma das maiores exchanges do mundo – que agravou a desconfiança no setor e acelerou a queda vertiginosa do ativo digital.
Taxa de juros dos EUA X Preço do Bitcoin

Juros e Bitcoin
Felipe Mendes, CEO da Altside, explicou que os juros criam a lógica do “custo de oportunidade”. Ou seja, quando o Fed direciona um aumento de taxa de juros, os
investimentos de renda fixa atrelados ao dólar se tornam mais atraentes, o que atrai investidores para a categoria, em detrimentos de ativos de risco.
Em contrapartida, quando os juros caem, o rendimento da renda fixa se torna baixo, incentivando os investidores a buscarem maior rentabilidade.
“Portanto, o preço do Bitcoin e de outros ativos de risco é diretamente influenciado por esse movimento. A política de juros do Fed define o custo do dinheiro mais importante do mundo, influenciando o apetite ao risco dos investidores em escala global”, disse.
Para Guilherme Prado, country manager da Bitget, esse comportamento recente do BTC reforça sua natureza como ativo de risco, mais do que como reserva de valor tradicional.
“A correlação moderada com o S&P 500 (cerca de 0,48) indica maior maturidade do Bitcoin, mas ele ainda reflete o apetite global por risco e as decisões do Fed”, disse.
O que esperar do Bitcoin se o Fed cortar juros neste ano?
De acordo com a ferramenta Fed Watch, 85% dos agentes do mercado acreditam que o Federal Reserve deve reduzir os juros da faixa atual, de 4,50% a 4,25% ao ano, para 4,25% e 4,00% na próxima reunião de setembro. No início do mês, a probabilidade de corte era ainda maior, em torno de 97,8%, mas os dados mais recentes de inflação no atacado (PPI, na sigla em inglês) nos EUA levaram o mercado a ajustar as apostas.
Se a redução for confirmada, o cenário tende a ser positivo para o Bitcoin, afirma Prado, já que a queda dos juros diminui o custo de oportunidade, aumenta a liquidez e favorece a busca por ativos de maior risco.
“Clareza em políticas fiscais e baixa tensão geopolítica podem amplificar esse efeito, com potencial para o Bitcoin superar os US$ 124.000. A magnitude do movimento, porém, dependerá de outros fatores macroeconômicos e do sentimento de mercado”, falou. Nesta terça-feira (19), o BTC é negociado a US$ 113,613, segundo dados da plataforma CoinMarketCap.
Expectativa de juros para reunião de setembro no Fed

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Outros fatores em jogo
Não são apenas os juros que impactam o sobe e desce do Bitcoin. Outros elementos macroeconômicos e estruturais também têm peso relevante, segundo os especialistas consultados pela reportagem.
- Inflação: Dados abaixo do esperado reforçam apostas em cortes de juros, fortalecendo o Bitcoin como alternativa às moedas fiduciárias, segundo Mendes.
- Política fiscal dos EUA: Medidas expansionistas estimulam ativos de risco e podem valorizar o BTC, especialmente em cenários de dólar mais fraco, disse Prado.
- Crescimento e emprego: Indicadores fracos favorecem políticas monetárias frouxas, beneficiando o mercado cripto, apontou Mendes.
- Investidores institucionais: A entrada de capital via instrumentos como ETFs spot e tesourarias corporativas amplia a legitimidade do setor, falou Mendes.
- Regulação: A evolução da regulação global tende a “oferecer uma base sólida para que o Bitcoin consolide seu papel como instrumento financeiro legítimo”, disse Mendes.
- Geopolítica: Crises internacionais podem posicionar o Bitcoin como “porto seguro ou levar à fuga de ativos de risco, dependendo do contexto”, afirmou Mendes.
- Halving: É um evento é um evento programado que acontece a cada quatro anos e reduz pela metade a recompensa que os mineradores recebem por validar blocos na rede. Isso significa que a cada halving entra menos BTC novo em circulação, diminuindo a “inflação” da moeda e ficando mais escasso.
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